“Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a.” (Johann Goethe)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 21 anos, há o
que se comemorar? Acreditamos nas conquistas advindas com a Doutrina da
Proteção integral que assegura a defesa de direitos do público infanto-juvenil,
mas ainda têm muitos desafios pela frente. Destacamos como avanço a lei
8.069/90 a qual reconhece criança e os adolescentes como sujeitos de direito,
já que antes não existia essa concepção.
Antes do Estatuto da Criança e Adolescente, vigorava no País o Código
de Menores, o qual se baseava na doutrina da Situação Irregular, que
responsabilizava a própria criança ou adolescente pelo abandono em que se
encontrava. Esta lei permitia o recolhimento dos que estivessem
“perambulando” nas ruas, atribuindo a eles a responsabilidade pela situação
em que se encontrava. Portanto, o referido código tinha destinatários
específicos que eram os pobres.
. A doutrina da proteção integral em tese universalizou os direitos,
estendeu-os a todas as crianças e adolescentes, independente da cor e da
classe social, estabelecendo deveres da família, da sociedade e do Estado,
possibilitando assim criar condição de que crianças e adolescentes sejam de
fato e de direito cidadãos. As mudanças foram significativas, no entanto, soam
ainda como um ensaio geral para a uma mudança mais importante. Quando
uma política pública não é universalizada ou não chega a todos e ou quando o
conjunto das políticas é fragmentado não se efetiva a Proteção Integral que
significa todos os direitos para todas as pessoas.
Evidente que as implicações sociais, políticas e jurídicas advindas do
ECA ainda estão muito longe de serem compreendidas e vivenciadas na
prática. Como resultado da distância entre o que está escrito na lei e o acesso
ao direito, as populações mais jovens ainda carregam o pesado fardo da culpa
pela precária situação em que se encontram. O trabalho infantil, a exploração
sexual, a violência familiar, o uso e abuso de drogas exemplificam bem a
realidade concreta de como vivem as nossas crianças e adolescente.
Nesses 21 anos não podemos negar as conquistas obtidas. Mais é
lamentável não comemoramos a sua implementação de fato em nosso estado.
É triste imaginar que o estado do Piauí sendo um dos mais pobres da
federação é o que menos se preocupa com criança e adolescentes, exemplo
bom é o que se constata em não haver preocupação dos gestores com os
Conselhos de Direitos e Tutelares. Em âmbito estadual o descaso é tamanho
que desde sua fundação em 1993 o Conselho Estadual dos Direitos da Criança
e Adolescente nunca recebeu nenhum repasse do Governo Estadual para ser
destinado ao Fundo Estadual da Infância e adolescência. Em âmbito municipal
os Conselhos Tutelares do interior vivem em uma precariedade tamanha que
não é exagero dizer que os mesmo vivem em completo abandono. As
condições enfrentadas pelos conselheiros vão desde a falta de equipamentos
básicos como: infra-estrutura do prédio, linha telefônica, computador,
impressora, energia elétrica, água e saneamento básico, alem de baixos
salários.
Na capital o problema não é diferente. Com uma população de
814.230habitantes (IBGE 2010), o gestor não observa as recomendações do
CONANDA, o qual diz que para cada 100 mil habitantes deve haver pelos
menos um Conselho Tutelar (art. 3° §1°da Resolução 139 do CONANDA).
Teresina possui apenas 3 (três) Conselhos Tutelares o que inviabiliza um
atendimento de qualidade proporcional a sua população. A rede de
atendimento é deficitária, os Centros de Referencias Assistência Social –
CRAS não possuem técnicos em numero insuficiente, falta casas de
acolhimento, programas de combate a exploração sexual, trabalho infantil e
inexiste um plano de convivência familiar e comunitária.
Considerando sobre o que diz o Fundo das Nações Unidas para Infância
– UNICEF crianças com famílias que possuem renda per capita menor que
meio salário mínimo tem maior probabilidade de morrer antes dos 5 anos de
idade, 21 vezes maior de ser analfabetas, e 30 vezes maior de viver em um
domicilio sem abastecimento adequado de água. Considerando ainda que
metade das famílias piauiense dependem de Benefícios do Governo Federal,
pode se concluir que não existe perspectiva de um futuro para as nossas
crianças e adolescente.
Nesse dia 13 de julho de 2011 data de comemoração de 21 anos do
Estatuto da criança e adolescente não há o que se comemorar, porem temos
que buscar não só o sentimento de revolta, mais também o sentimento de
revolução para que haja mudanças a realidade exposta.
*Raimundo dos Santos Junior
Tutelar, Diretor da Associação de Conselheiros Tutelares do
Estado do Piauí e Conselheiro Municipal dos Direitos da Criança
e Adolescente de Teresina.
é Pedagogo, ex- Conselheiro
Ola! Meus amigos, gostei de ver o meu artigo publico no seu blog, agradeço por divulgar essa realidade para que o seus leitores possam ter acesso a essa triste realidade.
ResponderExcluir